12/03/14

Os utentes e o novo Mapa Judiciário

 

O diploma do novo mapa judiciário recentemente aprovado em reunião do Conselho de Ministros obedece a uma lógica de esvaziamento e degradação dos serviços públicos e de despovoamento do interior empobrecido de Portugal.
Uma lógica contrária à vontade manifesta dos cidadãos e seus representantes autárquicos e com a clara oposição ou reserva dos profissionais da justiça e suas organizações representativas, conscientes das consequências negativas que podem resultar para o próprio poder judicial.
Inserida no quadro de uma política de encerramento de serviços públicos mais lata que tanto tem prejudicado as populações, esta lei vai ainda mais longe, ao privar comunidades e parcelas do território nacional do acesso, não apenas a um serviço público mas a uma função de soberania do Estado, a Justiça, pondo em causa a coesão nacional.
O encerramento de vinte tribunais, a transformação de muitas dezenas de outros em meros balcões de atendimento sem capacidade decisória, sobretudo no interior do país e, não menos grave, a perda de valências de muitos tribunais, é mais um exemplo do total desprezo deste governo pelos interesses das populações e que acentuará a sua discriminação.
Com esta decisão, a Justiça ficará mais distante das populações a quem deve servir; pelo que o governo não apenas viola o princípio constitucional do acesso dos cidadãos à justiça, em condições de igualdade, como torna ainda mais difícil e onerosa para as populações a resolução dos seus problemas nos tribunais do Estado.
Não menos prejudiciais serão as consequências induzidas noutros serviços que apoiam e servem o serviço de Justiça, como cartórios notariais, gabinetes de advogados, registos vários, etc., que, desaparecendo o tribunal ou parte das suas valências, perdem o interesse ou até a viabilidade económica em permanecerem nessas localidades.
Depois da privatização dos transportes públicos e consequente diminuição ou mesmo eliminação de carreiras e de horários, muitas populações perderam o direito à mobilidade, e, com especial incidência, desde há uma dezena de anos a esta parte viram-se despojadas dos serviços de saúde de proximidade, dos balcões da segurança social, dos CTT, das finanças, das escolas, dos lares e creches, etc., hoje ficarão ainda mais isoladas com este ataque ao serviço público de Justiça.
A ser aplicada, na prática, esta não será uma reforma para melhorar a justiça nem para a tornar mais acessível e menos onerosa, mas, pelo contrário, significará um retrocesso no funcionamento do sistema judiciário e violará um princípio constitucional.
O Movimento de Utentes dos Serviços Públicos exige aos Senhoras Deputados da Assembleia da República que cumpram o mandato para que foram eleitos, detenham este processo e legislem para que seja garantido o direito de acesso à justiça de todos os Portugueses e ao Senhor Presidente da República que cumpra e faça cumprir a Constituição da República Portuguesa honrando o seu juramento de posse.
As Comissões de Utentes e a população em geral vão continuar a sua luta para que o seu direito de acesso à Justiça e aos outros serviços públicos seja cumprido como consagrado na Constituição da República Portuguesa.
Lisboa, 10 de março de 2014