27/10/14

Orçamento do Estado para 2015: posição do MUSP

MUSP Logo
Proposta de Orçamento do Estado para o ano de 2015
Continuação de Políticas que fomentam a exploração e o empobrecimento do povo e do país
Aprofundam as desigualdades sociais
Degradam e destroem os serviços públicos
Degradam a democracia e
Poem em causa o exercício dos direitos sociais
 Foi recentemente apresentado pelo Governo PSD/CDS/PP em sede da Assembleia da República a proposta de Orçamento do Estado para o ano de 2015.
O conjunto das propostas inscritas na mesma reforçam e aprofundam as desigualdades sociais, o empobrecimento do povo e do país, a destruição dos serviços públicos e a aniquilação das funções sociais do Estado, numa clara opção ideológica e política do governo em benefício evidente dos grandes grupos económicos nacionais e internacionais.
Em 2015 os portugueses, nomeadamente os trabalhadores e os pensionistas, vão pagar mais impostos (mais 2.006 milhões de euros) e as empresas, por via da redução da taxa de IRC, vão acrescentar aos seus lucros cerca de 892 milhões de euros.
A redução do IRS anunciada pelo governo não passa de ficção tendo em conta as condicionantes colocadas para se efetivar e a introdução de um imposto indireto (fiscalidade verde), enquanto a redução da taxa de IRC já se encontra em vigor.
De facto, desde 2013, a execução orçamental tem sido sustentada pelo IRS com aumentos de 35,5% e de 11,8% nos primeiros nove meses deste ano (em relação aos primeiros nove meses de 2012 o aumento foi de 46%). Este enorme aumento de impostos sobre os rendimentos do trabalho constitui uma grande injustiça para com os trabalhadores e pensionistas e, segundo a proposta do governo, vai manter-se em 2015.
As pequenas alterações ao IRS previstas – quociente familiar e a possibilidade de deduzir as despesas dos ascendentes com rendimentos até à pensão mínima – resultam numa mera redistribuição da carga fiscal, pois as deduções à coleta sofrem igualmente alterações, nomeadamente com a redução dos seus limites.
O governo ao fazer depender a descida da sobretaxa de IRS do aumento da receita fiscal de IRS e de IVA face a 2014 está a continuar o esbulho sobre os rendimentos do trabalho e das pensões.
Quanto à fiscalidade verde apresentada como medida para a proteção do ambiente, visa, no fundamental, obter mais receita fiscal.
A introdução da tributação sobre o carbono (15€ por tCO2), vai determinar o aumento do preço dos combustíveis em cerca de 3% com a agravante de aumentar também a contribuição sobre o setor rodoviário, integrado no ISP, em mais 160 milhões de euros, o que provocará o aumento dos transportes. A tributação sobre o carbono irá também determinar o aumento do gás natural e da eletricidade.
A revisão da Taxa de Gestão de Resíduos e da Taxa de Recursos Hídricos determinará, de igual forma, o aumento da despesa das famílias na fatura da água e resíduos, a que se acrescenta o imposto sobre os sacos de plástico.
Ou seja, iremos assistir a um aumento generalizado de bens e serviços essenciais.
Governo delapida património público
Nos últimos anos, empresas chave em setores estratégicos, como a EDP, a ANA, os CTT, a Caixa Seguros foram privatizadas. O governo pretende agora concluir a venda da Caixa Seguros e da EGF, avançar com a privatização da TAP, ainda este ano, iniciar o processo de concessão da Carris, do Metro de Lisboa e Porto, do STCP e proceder a novas privatizações em 2015 como a CP Carga e a EMEF.
Temos mais uma nova versão das PPPs: o estado fica com as dívidas, os privados ficam com os lucros e os utentes pagam mais por piores serviços.
O governo não só avança com a delapidação do património público como se propõe reduzir de 85 milhões de euros as indemnizações compensatórias para as empresas públicas de transportes, o que indicia novos ataques aos direitos dos seus trabalhadores, a redução de serviços e o aumento dos preços dos transportes para os utentes.
Esta opção do governo pela privatização destes importantes e estratégicos sectores de atividade assumem uma gravidade de enormes proporções para os utentes, trabalhadores e populações, para o país e para a própria economia nacional, em benefício claro dos interesses dos grandes grupos económicos e financeiros.
O caso da PT é ilustrativo de um crime contra a economia do país. Hoje é uma empresa completamente destruída onde o estado português e os portugueses não têm voz ativa. O governo não pode assistir impávido e sereno à destruição de uma empresa estratégica em relação ao setor das comunicações. É sua obrigação intervir para defender os interesses nacionais.
No caso da TAP, a prosseguir a sua alienação, seria liquidado o setor de transporte aéreo nacional. No caso da EGF é posto em causa um direito básico – o direito à água e ao saneamento – que não pode ser transformado num negócio.
O ataque aos direitos sociais dos portugueses continua
O governo continua empenhado e apostado em promover a destruição dos serviços públicos para os entregar de forma escandalosa aos grandes grupos económicos nacionais e internacionais.
A proposta de Orçamento do Estado para 2015 prevê novos cortes nas despesas sociais que atingem sobretudo a educação (menos 700 milhões de euros e a justiça (menos 122 milhões de euros). Também a segurança social e o ensino superior estão sujeitos a novos cortes. Estes cortes são acumulados a outros já feitos nos últimos anos o que torna a situação ainda mais grave.
Na educação vai prosseguir a política de encerramento de escolas, nomeadamente as do pré-escolar e do 1º ciclo do ensino básico, e o aumento dos alunos por turma, o que implica um aumento dos custos para as famílias e a redução da qualidade do ensino.
Na saúde o governo pretende desresponsabilizar-se dos serviços de saúde de proximidade e transferi-los para as autarquias, sem a transferência dos meios financeiros adequados, tornando ainda mais difícil o acesso dos utentes a estes serviços. Em relação às diversas especialidades irá prosseguir a sua política de concentração obrigando os utentes a assumir custos mais elevados em deslocações.
No domínio da segurança social é introduzido um “teto global para as prestações sociais não contributivas substitutivas de rendimentos de trabalho” o que, para além de estigmatizar os grupos sociais mais vulneráveis, contribui para o aumento das desigualdades, da pobreza e da exclusão social. Com esta medida o governo pretende “poupar” 100 milhões de euros o que contrasta com a redução da taxa de IRC que beneficia os lucros das grandes empresas e com os 30 milhões de euros que vai cobrar ao setor financeiro.
As reestruturações de serviços só serão aprovadas se daí resultar redução de custos. Para o governo a melhoria da qualidade e quantidade dos serviços prestados aos portugueses não interessa.
A política do governo PSD/CDS que condena o povo português ao empobrecimento e a piores serviços públicos, como se confirma pela proposta de Orçamento de Estado para 2015 tem de ser travada. A demissão imediata do governo é cada vez mais necessária e urgente, e só uma política alternativa soberana e que tenha em conta os interesses do povo, uma verdadeira política de esquerda poderá garantir mais e melhor emprego, a melhoria das condições de vida da população portuguesa, a reposição dos direitos sociais e laborais, a justiça fiscal, melhores serviços públicos e o crescimento económico.
Lisboa, 23 de Outubro de 2014